TEXTO E HIPERTEXTO – RELATO DA EXPERIÊNCIA
COM A TURMA DE 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
O trabalho com texto e/ou
hipertexto em uma turma de 1º Ano do Ensino Fundamental deve considerar, em
primeiro lugar, a faixa etária das crianças – seis e sete anos – bem como as
experiências prévias que cada uma tem com a escrita dentro de seu espaço
familiar e social e, posteriormente, escolar. Sendo assim, torna-se fundamental
realizar um trabalho partindo sempre de temas pelos quais a criança demonstra
interesse, criando contextos significativos para que ela possa entrar em
contato com os diferentes tipos de textos existentes, sejam eles conhecidos ou
não, impressos ou digitais.
Ao professor
alfabetizador, cabe a tarefa de planejar seu trabalho a partir da articulação dos
saberes prévios dos alunos com a cultura escrita e das necessidades de leitura
e escrita que eles precisam adquirir aos conteúdos básicos para o 1º Ano do
Ensino Fundamental. E esse processo de planejamento é essencial para que o
professor possa delimitar suas ações, sabendo quais objetivos pretende
alcançar. Além disso, cabe ao professor organizar uma rotina que envolva
diariamente atividades de leitura e escrita, tanto por parte dele como por
parte dos alunos.
Segundo o Pacto Nacional
para Alfabetização na Idade Certa[1] (BRASIL,
2012, p. 07), o processo de alfabetização e ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa para o 1º Ano, está direcionado por
quatro eixos: “leitura,
produção de texto escrito, oralidade e análise linguística, incluindo a
apropriação do Sistema de Escrita Alfabética – SEA”.
Ainda, “todo o trabalho com a alfabetização [...] está pautado na busca da
realização de atividades que levem em consideração os usos sociais da língua
escrita, não somente os escolares, mas também os relativos a outras esferas
sociais” [2].
Tal descrição serve para introduzir e fundamentar como está sendo
realizada minha prática em sala de aula, enquanto professora de uma turma de 1º
Ano de Ensino Fundamental, após a implantação do referido programa em nossa
escola. Diante disso, busco planejar minhas atividades na direção destes quatro
eixos fundamentais e, consequentemente, desenvolvo em sala de aula uma rotina
organizada de tal modo, a fim de considerar estes eixos em sua essência através
de atividades permanentes, sequências
didáticas, projetos didáticos, uso do livro didático, jogos e outras
atividades complementares.
Para
esta atividade, na qual preciso relatar alguma experiência com o uso de
texto/hipertexto na educação, selecionei uma experiência recente e que
desenvolvi dentro de um projeto organizado para comemorar a Semana do Dia das
Mães na escola [3].
Previamente,
como rotina, faço a leitura para deleite, que consiste em uma leitura diária
para os alunos utilizando os livros de literatura de diferentes temáticas
disponíveis no Cantinho da Leitura, na própria sala de aula. Como estávamos
trabalhando sobre o Dia das Mães, busquei um livro chamado “Se as coisas fossem
mães”, de Sylvia Orthof e Ana Raquel, para fazer a leitura deleite. Antes da
leitura, realizei atividades de exploração da temática, para saber quais os
conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema e fiz os registros no quadro.
Após a leitura, dialogamos sobre a história e convidei voluntários para
recontá-la, de acordo com o seus entendimentos. Voltei, então, para os
apontamentos feitos antes da leitura, para verificar se as informações que os
alunos já sabiam correspondiam ou não com as informações que a história trouxe.
Seguindo
com o planejamento, dei ênfase às palavras de destaque na história. Enquanto os
alunos listavam oralmente os objetos que “seriam mães[4]”
na história, eu fazia o papel de escriba, colocando-os no quadro. Solicitei que
lessem as palavras escritas no quadro e, em seguida, utilizando o alfabeto
móvel, tentassem formá-las. Ao final, os alunos ilustraram a história através
de desenhos e escreveram as palavras no caderno.
No
dia seguinte, fiz a retomada oral da história, destacando, novamente, os objetos
que “seriam mães” [5].
A partir da história original, os alunos teriam que recriar outras
possibilidades de objetos que poderiam ser mães e, também, mãe de quem eles
seriam. Primeiro, fizemos o exercício oralmente, citando alguns exemplos e,
depois, cada dupla recebeu o material necessário para criar um cartaz com
outros exemplos. Neste cartaz, os alunos deveriam fazer os registros através da
escrita das palavras e das ilustrações dos exemplos que criaram. Ao final, cada
dupla apresentou aos demais as possibilidades que pensaram e os cartazes foram
expostos na sala de aula.
No
terceiro dia, a proposta da sequência didática foi desenvolvida a partir do uso
do livro didático, um instrumento muito importante para complementar as aulas.
O texto escolhido foi um trecho da marchinha de carnaval “Mamãe eu quero” [6]
(CARPANEDA e BRAGANÇA, 2008, p. 92), previamente transcrito em um cartaz,
fixado no quadro, para facilitar a visualização e a leitura. Assim como na
leitura deleite, questionei os alunos sobre os conhecimentos prévios acerca
desse tipo de cantiga e percebi que ela não fazia parte do cotidiano das
crianças. Então, fiz as explicações necessárias e iniciamos com a leitura
silenciosa, a leitura oral feita pela professora, a leitura oral coletiva, a
interpretação oral, cantamos e dançamos a música e, ao final, realizamos as
atividades complementares, tais como: identificação e exploração de palavras do
texto, no caso “Mamãe” [7],
leitura e contagem das letras, leitura da palavras, família silábica, palavras
que iniciam com a mesma letra da palavra-chave, entre outras.
No
quarto dia, fiz a retomada da música trabalhada no dia anterior com a leitura
oral coletiva, cantando e dançando. Levei os alunos ao laboratório de
informática e, com a ferramenta Word, pedi que reescrevessem a música
trabalhada da forma como sabiam. Após, auxiliei-os na correção da escrita e na
formatação da mesma. Na sequência, com a ferramenta Paint, os alunos ilustraram
a música conforme a sua criatividade. Ao final, salvamos os trabalhos e fizemos
a impressão para que fossem guardados no portfólio que cada um tem em sala de
aula.
No
quinto dia, busquei um jogo de letras e palavras para fechar a semana, a fim de
que os alunos pudessem consolidar todas as aprendizagens por meio de situações lúdicas
e, ao mesmo tempo, desafiadoras.
Diante de tudo o que foi exposto, é possível afirmar que o trabalho
com textos em sala de aula deve acontecer quase que diariamente e depende muito
do modo como o professor organiza as atividades de exploração do mesmo, para
que estas não se tornem repetitivas e cansativas. Sendo assim, o
desenvolvimento de atividades diversificadas proporciona aos alunos a interação
e reflexão a partir dos diferentes tipos de textos, mesmo que estes não sejam
conhecidos, como ocorreu nesta experiência e que também devem ser utilizados.
Como percebido no relato da experiência, não faço uso de hipertextos
em sala de aula com meus alunos e isso se deve a alguns fatores: primeiro,
porque os alunos de 1º Ano estão iniciando o seu processo de alfabetização e
letramento e, conforme Luiz Antonio Marcuschi [8]
(2001, p. 80), “não está claro ainda como desenvolver uma política de
letramento acoplada a uma nova tecnologia de modo culturalmente sensível”.
Segundo, porque sempre tive a concepção de que os meus alunos de 1º Ano fossem
imaturos demais para usar as tecnologias, especialmente para navegar na
Internet, afinal, nenhum deles possui computador em casa, visto a sua situação
familiar. Então, para trabalhar com hipertextos, acredito que eles precisam ter
maiores conhecimentos de informática, o que demandaria um tempo que já não
dispomos, se considerarmos os programas que nos são estabelecidos para cumprir
durante o ano letivo. Terceiro, porque, qualquer atividade que seja precisa ser
muito bem pensada e planejada, e com o uso do hipertexto não poderia ser
diferente. Assim, de nada adianta termos laboratórios de informática bem
equipados e com acesso à Internet, se os professores não se sentem em condições
para tal e se não há “reflexões críticas a respeito do uso da computação em
sala de aula, o qual vem ocorrendo de modo ingênuo e despreparado” (MARCUSCHI,
2001, p. 81) [9].
Realmente, percebo essa falha como educadora, pois estou deixando de
oportunizar aos meus alunos uma situação diferente de aprendizagem,
especialmente nesta fase de alfabetização, e que, com certeza eles iriam gostar
muito de fazer. Ao mesmo tempo, no decorrer do curso de Mídias na Educação, já
modifiquei algumas posturas diante das tecnologias, o que me credencia
novamente a corrigir essa falha e, futuramente, incluir o hipertexto na minha
rotina em sala de aula.
[1] Brasil. Ministério da
Educação. Secretaria de Educação
Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, Ano 1, Unidade 2.
Brasília: MEC, SEB, 2012. 48 p.
[2] Idem.
[3]
É importante salientar
que, simultaneamente às atividades descritas, também foram realizadas outras
atividades dentro das disciplinas de Matemática, Ciências, Geografia e
História, conforme o projeto elaborado em nível de escola.
[4] Grifo do autor.
[5] Idem.
[6] CARPANEDA, Isabella Pessoa de Melo;
BRAGANÇA, Angiolina. Porta Aberta:
letramento e alfabetização linguística: 1º ano. São Paulo: FTD, 2008.
[7] Grifo do autor.
[8] MARCUSCHI, Luiz Antônio. O
hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Revista Linguagem
& Ensino, vol. 4, N. 1, 2001, p. 79-111.
[9] Idem.