sábado, 25 de maio de 2013


TEXTO E HIPERTEXTO – RELATO DA EXPERIÊNCIA COM A TURMA DE 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


O trabalho com texto e/ou hipertexto em uma turma de 1º Ano do Ensino Fundamental deve considerar, em primeiro lugar, a faixa etária das crianças – seis e sete anos – bem como as experiências prévias que cada uma tem com a escrita dentro de seu espaço familiar e social e, posteriormente, escolar. Sendo assim, torna-se fundamental realizar um trabalho partindo sempre de temas pelos quais a criança demonstra interesse, criando contextos significativos para que ela possa entrar em contato com os diferentes tipos de textos existentes, sejam eles conhecidos ou não, impressos ou digitais.
Ao professor alfabetizador, cabe a tarefa de planejar seu trabalho a partir da articulação dos saberes prévios dos alunos com a cultura escrita e das necessidades de leitura e escrita que eles precisam adquirir aos conteúdos básicos para o 1º Ano do Ensino Fundamental. E esse processo de planejamento é essencial para que o professor possa delimitar suas ações, sabendo quais objetivos pretende alcançar. Além disso, cabe ao professor organizar uma rotina que envolva diariamente atividades de leitura e escrita, tanto por parte dele como por parte dos alunos.
Segundo o Pacto Nacional para Alfabetização na Idade Certa[1] (BRASIL, 2012, p. 07), o processo de alfabetização e ensino-aprendizagem da Língua Portu­guesa para o 1º Ano, está direcionado por quatro eixos: leitura, produção de texto escrito, oralidade e análise linguística, incluindo a apropriação do Sistema de Escrita Alfabé­tica SEA. Ainda, “todo o trabalho com a alfabetização [...] está pautado na busca da realização de atividades que levem em consideração os usos sociais da língua escrita, não somente os escolares, mas também os relativos a outras esferas sociais” [2].
Tal descrição serve para introduzir e fundamentar como está sendo realizada minha prática em sala de aula, enquanto professora de uma turma de 1º Ano de Ensino Fundamental, após a implantação do referido programa em nossa escola. Diante disso, busco planejar minhas atividades na direção destes quatro eixos fundamentais e, consequentemente, desenvolvo em sala de aula uma rotina organizada de tal modo, a fim de considerar estes eixos em sua essência através de atividades permanentes, sequências didá­ticas, projetos didáticos, uso do livro didático, jogos e outras atividades complementares.
Para esta atividade, na qual preciso relatar alguma experiência com o uso de texto/hipertexto na educação, selecionei uma experiência recente e que desenvolvi dentro de um projeto organizado para comemorar a Semana do Dia das Mães na escola [3].
Previamente, como rotina, faço a leitura para deleite, que consiste em uma leitura diária para os alunos utilizando os livros de literatura de diferentes temáticas disponíveis no Cantinho da Leitura, na própria sala de aula. Como estávamos trabalhando sobre o Dia das Mães, busquei um livro chamado “Se as coisas fossem mães”, de Sylvia Orthof e Ana Raquel, para fazer a leitura deleite. Antes da leitura, realizei atividades de exploração da temática, para saber quais os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema e fiz os registros no quadro. Após a leitura, dialogamos sobre a história e convidei voluntários para recontá-la, de acordo com o seus entendimentos. Voltei, então, para os apontamentos feitos antes da leitura, para verificar se as informações que os alunos já sabiam correspondiam ou não com as informações que a história trouxe.
Seguindo com o planejamento, dei ênfase às palavras de destaque na história. Enquanto os alunos listavam oralmente os objetos que “seriam mães[4]” na história, eu fazia o papel de escriba, colocando-os no quadro. Solicitei que lessem as palavras escritas no quadro e, em seguida, utilizando o alfabeto móvel, tentassem formá-las. Ao final, os alunos ilustraram a história através de desenhos e escreveram as palavras no caderno.
No dia seguinte, fiz a retomada oral da história, destacando, novamente, os objetos que “seriam mães” [5]. A partir da história original, os alunos teriam que recriar outras possibilidades de objetos que poderiam ser mães e, também, mãe de quem eles seriam. Primeiro, fizemos o exercício oralmente, citando alguns exemplos e, depois, cada dupla recebeu o material necessário para criar um cartaz com outros exemplos. Neste cartaz, os alunos deveriam fazer os registros através da escrita das palavras e das ilustrações dos exemplos que criaram. Ao final, cada dupla apresentou aos demais as possibilidades que pensaram e os cartazes foram expostos na sala de aula.
No terceiro dia, a proposta da sequência didática foi desenvolvida a partir do uso do livro didático, um instrumento muito importante para complementar as aulas. O texto escolhido foi um trecho da marchinha de carnaval “Mamãe eu quero” [6] (CARPANEDA e BRAGANÇA, 2008, p. 92), previamente transcrito em um cartaz, fixado no quadro, para facilitar a visualização e a leitura. Assim como na leitura deleite, questionei os alunos sobre os conhecimentos prévios acerca desse tipo de cantiga e percebi que ela não fazia parte do cotidiano das crianças. Então, fiz as explicações necessárias e iniciamos com a leitura silenciosa, a leitura oral feita pela professora, a leitura oral coletiva, a interpretação oral, cantamos e dançamos a música e, ao final, realizamos as atividades complementares, tais como: identificação e exploração de palavras do texto, no caso “Mamãe” [7], leitura e contagem das letras, leitura da palavras, família silábica, palavras que iniciam com a mesma letra da palavra-chave, entre outras.
No quarto dia, fiz a retomada da música trabalhada no dia anterior com a leitura oral coletiva, cantando e dançando. Levei os alunos ao laboratório de informática e, com a ferramenta Word, pedi que reescrevessem a música trabalhada da forma como sabiam. Após, auxiliei-os na correção da escrita e na formatação da mesma. Na sequência, com a ferramenta Paint, os alunos ilustraram a música conforme a sua criatividade. Ao final, salvamos os trabalhos e fizemos a impressão para que fossem guardados no portfólio que cada um tem em sala de aula.
No quinto dia, busquei um jogo de letras e palavras para fechar a semana, a fim de que os alunos pudessem consolidar todas as aprendizagens por meio de situações lúdicas e, ao mesmo tempo, desafiadoras.
Diante de tudo o que foi exposto, é possível afirmar que o trabalho com textos em sala de aula deve acontecer quase que diariamente e depende muito do modo como o professor organiza as atividades de exploração do mesmo, para que estas não se tornem repetitivas e cansativas. Sendo assim, o desenvolvimento de atividades diversificadas proporciona aos alunos a interação e reflexão a partir dos diferentes tipos de textos, mesmo que estes não sejam conhecidos, como ocorreu nesta experiência e que também devem ser utilizados.
Como percebido no relato da experiência, não faço uso de hipertextos em sala de aula com meus alunos e isso se deve a alguns fatores: primeiro, porque os alunos de 1º Ano estão iniciando o seu processo de alfabetização e letramento e, conforme Luiz Antonio Marcuschi [8] (2001, p. 80), “não está claro ainda como desenvolver uma política de letramento acoplada a uma nova tecnologia de modo culturalmente sensível”. Segundo, porque sempre tive a concepção de que os meus alunos de 1º Ano fossem imaturos demais para usar as tecnologias, especialmente para navegar na Internet, afinal, nenhum deles possui computador em casa, visto a sua situação familiar. Então, para trabalhar com hipertextos, acredito que eles precisam ter maiores conhecimentos de informática, o que demandaria um tempo que já não dispomos, se considerarmos os programas que nos são estabelecidos para cumprir durante o ano letivo. Terceiro, porque, qualquer atividade que seja precisa ser muito bem pensada e planejada, e com o uso do hipertexto não poderia ser diferente. Assim, de nada adianta termos laboratórios de informática bem equipados e com acesso à Internet, se os professores não se sentem em condições para tal e se não há “reflexões críticas a respeito do uso da computação em sala de aula, o qual vem ocorrendo de modo ingênuo e despreparado” (MARCUSCHI, 2001, p. 81) [9].
Realmente, percebo essa falha como educadora, pois estou deixando de oportunizar aos meus alunos uma situação diferente de aprendizagem, especialmente nesta fase de alfabetização, e que, com certeza eles iriam gostar muito de fazer. Ao mesmo tempo, no decorrer do curso de Mídias na Educação, já modifiquei algumas posturas diante das tecnologias, o que me credencia novamente a corrigir essa falha e, futuramente, incluir o hipertexto na minha rotina em sala de aula.



[1] Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, Ano 1, Unidade 2. Brasília: MEC, SEB, 2012.  48 p.
[2] Idem.
[3] É importante salientar que, simultaneamente às atividades descritas, também foram realizadas outras atividades dentro das disciplinas de Matemática, Ciências, Geografia e História, conforme o projeto elaborado em nível de escola.
[4] Grifo do autor.
[5] Idem.
[6] CARPANEDA, Isabella Pessoa de Melo; BRAGANÇA, Angiolina. Porta Aberta: letramento e alfabetização linguística: 1º ano. São Paulo: FTD, 2008.
[7] Grifo do autor.
[8] MARCUSCHI, Luiz Antônio. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Revista Linguagem & Ensino, vol. 4, N. 1, 2001, p. 79-111.
[9] Idem.

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